Estações-piloto de TV 3.0 entram em operação em São Paulo
Estações-piloto já operam com 4K, HDR, áudio imersivo e MIMO
As transmissões experimentais do novo padrão brasileiro de televisão digital, o DTV+ (TV 3.0), começaram oficialmente em São Paulo nesta segunda-feira (18). As emissoras Record e SBT foram escolhidas para sediar as primeiras estações-piloto do projeto, com antenas instaladas na Avenida Paulista e no bairro do Sumaré, respectivamente.
A iniciativa marca o início da implementação da nova geração da TV aberta, que promete oferecer recursos como transmissões em 4K e 8K, imagens em HDR, áudio imersivo (padrão MPEG‑H), além da integração entre o sinal tradicional e conteúdos sob demanda e interativos pela internet. A tecnologia MIMO (Multiple Input, Multiple Output) também foi incorporada para melhorar a robustez da transmissão, especialmente em ambientes internos.
As primeiras demonstrações públicas são a grande atração da SET Expo 2025, maior feira de tecnologia e negócios de mídia e entretenimento da América Latina, que acontece de 19 a 21 de agosto no Anhembi, em São Paulo.
O Projeto de Aceleração da DTV+ é conduzido pela Seja Digital, em parceria com o Fórum SBTVD, e, desde outubro de 2024, está sob coordenação do GIRED, grupo presidido pela Anatel e com representantes do Ministério das Comunicações, radiodifusores e operadoras de telefonia. O ecossistema abrange atualmente mais de 50 fornecedores de tecnologia, indústria e academia.
A fase piloto em São Paulo deverá se estender até setembro de 2026, viabilizando ajustes técnicos e o desenvolvimento de modelos de negócio antes da adoção em escala nacional. Em outubro de 2026, os resultados serão avaliados para encerramento deste projeto piloto.
Antenas de DTV+ em São Paulo. Acima, está a antena instalada na torre da TV Record, transmitindo no canal VHF-7. Abaixo, aspecto da torre do SBT, com antena DTV+ operando no canal VHF-8.
Adições importantes sobre o decreto e o padrão adotado
A cerimônia de assinatura do decreto presidencial que oficializa a TV 3.0 foi remarcada. Inicialmente prevista para 19 de agosto, no Palácio do Planalto — em paralelo à SET Expo —, a solenidade foi adiada para quarta-feira, 27 de agosto, em razão de um possível conflito com a feira que poderia esvaziar o evento em Brasília. Segundo a coluna de Andreza Matais no Metrópoles, apesar das tentativas de contornar o impasse via transmissão simultânea, as divergências internas despertaram suspeitas no setor.
A grande polêmica diz respeito à adoção do padrão ATSC 3.0, de origem americana. Diante das tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, o governo optou por um modelo híbrido de patentes, combinando soluções internacionais — inclusive a americana — com inovações nacionais. A ATSC tem estande na SET Expo, com a presidente da organização, Madeleine Noland, presente em agenda comercial.
Segundo o Ministério das Comunicações, a escolha do padrão DTV+ sempre teve caráter multilateral, incorporando tecnologia de diversos países como EUA, Coreia do Sul, Alemanha, Canadá, China, França, Índia, Japão, Rússia e União Europeia — totalizando mais de mil patentes para diversas camadas tecnológicas —, sem predominância de nacionalidade.
O que muda com a TV 3.0 (DTV+)
A DTV+ vai além da atual TV digital. Entre os principais avanços estão:
- Imagem em 4K/Ultra HD, com possibilidade futura de transmissões em 8K;
- Áudio imersivo e personalizável, com tecnologia MPEG-H;
- Interatividade por meio de aplicativos dentro do sinal aberto, permitindo enquetes, compras e acesso a conteúdos adicionais;
- Alertas de emergência, integrados diretamente à transmissão;
- Acessibilidade ampliada, com múltiplas opções de legendas, audiodescrição e navegação simplificada.
A novidade se apoia em uma transmissão híbrida: parte via radiodifusão gratuita, como já ocorre, e parte com suporte a conexões de internet para recursos adicionais.
Impactos para emissoras, público e indústria
Emissoras de TV - A mudança exigirá fortes investimentos em infraestrutura — novos transmissores, encoders e antenas. Durante um período estimado entre 10 e 15 anos, as emissoras terão de operar em simulcast, transmitindo tanto no padrão atual (ISDB-Tb) quanto no DTV+. Apesar do custo, o setor projeta novas oportunidades comerciais, com publicidade interativa e segmentada.
Telespectadores - O público receberá qualidade superior de imagem e som, além de novas possibilidades de interatividade. No entanto, será necessário possuir televisores compatíveis ou conversores externos específicos para o padrão DTV+. Assim como ocorreu na transição do analógico para o digital, o governo e fabricantes deverão estruturar políticas para massificar o acesso.
Fabricantes de TVs e conversores - A indústria eletrônica entra em um novo ciclo de inovação. O decreto oferece segurança jurídica para que novas linhas de TVs e set-top boxes sejam lançadas no mercado brasileiro. Especialistas destacam ainda a possibilidade de o Brasil exportar know-how e equipamentos desenvolvidos localmente, já que o padrão TV 3.0 reúne contribuições de países como Japão, Coreia, EUA e membros da Europa.
Conversores devem garantir acesso à DTV+ sem troca imediata da TV
Assim como ocorreu na transição do analógico para o digital, a chegada da TV 3.0 não exigirá que todas as famílias brasileiras troquem de aparelho de imediato. A indústria eletrônica já se prepara para lançar conversores compatíveis com o padrão DTV+, que poderão ser conectados a televisores mais antigos.
Esses dispositivos funcionarão de forma semelhante aos set-top boxes usados na década passada, garantindo a recepção do novo sinal, com qualidade de áudio e vídeo superiores, além das funções interativas. A previsão é de que os primeiros modelos cheguem ao mercado a partir de 2026, quando se iniciará a expansão comercial do sistema.
Especialistas destacam que essa alternativa será fundamental para massificar a adoção da DTV+, evitando um impacto financeiro imediato sobre os consumidores e assegurando o princípio de acesso universal à TV aberta gratuita.
Estações de DTV+ em São Paulo
Como parte da fase inicial de implantação, duas estações experimentais de DTV+ começam a operar na capital paulista durante a SET Expo 2025. Uma está instalada na torre da TV Record, na Avenida Paulista, e a outra na torre do SBT, no bairro do Sumaré.
Há quatro transmissões no canal 7 e duas no canal 8. Por enquanto, são exibidos trechos de conteúdo em 4K, produzidos pelas TVs Globo, Record, Câmara e SBT.
A iniciativa é coordenada pelo GIRED (Grupo de Implementação da TV Digital), em conjunto com o Fórum SBTVD e empresas do setor.
Estações-piloto no Rio, São Paulo e Brasília: DTV+ sai do papel e ganha o ar
A TV Globo já opera há alguns meses a primeira estação-piloto da DTV+ no Rio de Janeiro — instalada na região do Jardim Botânico com cobertura para a Zona Sul e Barra da Tijuca. Desde abril de 2025, a emissora tem realizado transmissões experimentais em 4K, com áudio imersivo MPEG-H e aplicações interativas.
Embora o sinal ainda esteja restrito a receptores próprios e testes técnicos, a Globo já promoveu demonstrações práticas em eventos esportivos e musicais, exibindo as possibilidades de personalização de áudio, enquetes em tempo real e uso de datacasting.
Além do Rio, São Paulo e Brasília também passam a contar com estações experimentais, em caráter de demonstração, alinhadas ao lançamento da SET Expo 2025. Com isso, a feira paulista marca o primeiro contato público em larga escala com a DTV+, consolidando a fase de testes da TV 3.0 no Brasil.
Faixa de operação: testes em VHF antes da migração planejada para 300 MHz
As estações experimentais de DTV+ em São Paulo (canais 7 e 8, na antiga VHF alta) estão em operação temporariamente nesta faixa — que vai de aproximadamente 174 a 216 MHz — embora o plano definitivo preveja a realocação para a faixa de 300 MHz, mais adequada para o padrão TV 3.0.
Essa decisão se explica por questões práticas: a VHF alta já dispõe de infraestrutura homologada e permite testes imediatos, sem a necessidade de esperar o replanejamento e a liberação da faixa de 300 MHz pela Anatel. As operações definitivas nessa nova faixa estão previstas para iniciar a partir de 2026, com cobertura prioritária em capitais.
Cronograma de implantação
Segundo o Ministério das Comunicações, a transição será gradual. A meta inicial é que parte das capitais já conte com cobertura em DTV+ até a Copa do Mundo de 2026. Durante a convivência com o padrão atual, a população terá tempo para se adaptar e renovar equipamentos.
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