João Camargo deixa CNN e coloca futuro da Rádio Transamérica em xeque


O anúncio da saída de João Camargo da presidência do conselho executivo da CNN Brasil, após três anos no cargo, representa uma das mudanças mais significativas no setor de mídia brasileiro em 2025. A decisão, comunicada oficialmente nesta sexta-feira (22), foi justificada pelo executivo como um movimento para se dedicar a “outros projetos empresariais”, entre eles o ecossistema Esfera Brasil e o relançamento da Rede Transamérica de Rádio. No entanto, fontes de mercado indicam que a ruptura foi motivada por atritos internos com o fundador da CNN Brasil, Rubens Menin, e pela condução unilateral do projeto de transformar a Transamérica em CNN Transamérica.

A tensão nos bastidores

A CNN Brasil nasceu em 2020 como uma joint venture entre a americana CNN International Commercial e um grupo de empresários liderado por Menin. Camargo, que inicialmente atuava como conselheiro, ganhou força nos anos seguintes até assumir a presidência do conselho executivo. Sua gestão ficou marcada por uma tentativa de modernização da marca e expansão para novas plataformas.

No entanto, sua condução de projetos estratégicos — como a compra da Transamérica em agosto deste ano — gerou resistência. O ponto de ruptura, segundo apuração do site TV Pop, foi o anúncio da criação da CNN Transamérica, previsto para outubro, feito por Camargo sem o devido alinhamento com Menin e outros sócios. A medida foi interpretada como uma tentativa de consolidar sua imagem à frente do grupo, apesar de não ser acionista da CNN Brasil.

Perspectivas para a Transamérica

A proposta original previa transformar a tradicional 100,1 FM de São Paulo e suas afiliadas em uma emissora 100% jornalística, com estúdios integrados à sede da CNN na Avenida Paulista e programação ao vivo 24 horas por dia. O projeto simbolizaria a entrada definitiva da CNN no rádio, após a experiência — entre 2020 e 2023 — de compartilhamento parcial da grade da Transamérica.

Embora tenha deixado a CNN, Camargo reforçou, em sua carta de despedida, o compromisso com o relançamento da Transamérica, prometendo um projeto “robusto e inovador”. Isso sinaliza que a rádio continuará a ser um pilar dos seus negócios, mas sem a chancela direta da marca CNN.

Para o mercado, a saída de cena de Camargo dentro da CNN Brasil gera dúvidas sobre o alinhamento futuro da Transamérica com a emissora de notícias. Sem a articulação direta, a ideia de uma Rádio CNN Transamérica perde força, e a 100,1 FM pode acabar mantendo uma identidade mais próxima do seu histórico musical, ou buscar outro modelo híbrido que mescle entretenimento, jornalismo e esporte.

O risco imediato é de que a Transamérica mantenha uma linha de programação híbrida, sem abandonar completamente sua vocação musical, enquanto o grupo GC2, da família Camargo, decide os próximos passos.

Impacto no mercado de mídia

A indefinição ocorre em um momento de intensa movimentação no setor. Outras emissoras de rádio jornalísticas — como CBN, Jovem Pan News e BandNews FM — consolidaram espaço nas últimas décadas, e a entrada da CNN no dial prometia aquecer ainda mais a disputa pela audiência informativa em tempo real. A retirada do projeto do papel, ao menos no curto prazo, abre margem para concorrentes reforçarem sua presença.

Além disso, a própria Rede Transamérica se vê diante de um dilema: a rádio construiu seu prestígio como referência musical e esportiva desde os anos 1980, sendo palco para o rock nacional e para grandes transmissões de futebol. Romper de forma brusca com esse legado em troca de uma identidade 100% jornalística já dividia opiniões dentro e fora da empresa. Agora, com a saída de Camargo, cresce a possibilidade de uma solução intermediária, que preserve parte da programação musical e esportiva.

Nova governança da CNN Brasil

No lugar de Camargo, a CNN Brasil passa a ser conduzida por um comitê de gestão, que terá como figuras centrais o conselheiro Nicola Calicchio — ex-CEO da McKinsey na América Latina — e o próprio Rubens Menin, além de diretores executivos como Virgílio Abranches, Fernanda Tomasoni, Mariana Garbin, Márcio Busato, Alexandra Mendonça e Cris Moreira. O comunicado interno da CNN Brasil assegura que todas as lideranças permanecem em seus cargos e que a operação segue inalterada.

A governança colegiada é interpretada como uma tentativa de estabilizar o grupo após meses de tensões, mas também reflete o desafio de manter a CNN Brasil competitiva em um mercado de notícias cada vez mais fragmentado, no qual a televisão por assinatura e as plataformas digitais disputam a atenção do público.

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